Um ônibus no Recife é um carro de boi,
E cada boi dependendo do transporte
Tem preço: R$ 2,85 e/ou R$ 1,85.
Também tem boi integrado, que para no matadouro:
Estação Joana Bezerra.
Tem até boi que fala:
— Eu tenho vinte ano
To disimpregado, e to pidino
Que é mai bunito du que roba.
Sai de casa de sete da manhã e
To na rua até essa hora...
Minha gente aceito vale A & B,
25¢, 50¢... O que me deri ta bom,
Por que meus filhos num tem o que
Cumer em casa uma hora dessa...
— E desce na próxima parada já pronto
Para desferir o texto para a próxima boiada.
Tem boi que sobe armado e
Rouba os outros bois, esse é
O boi vilão, boy, que ganha a vida tirando
O couro dos outros.
E por fim tem os bezerros:
Esses pagam metade mas
Sofrem inteira a viagem.
E o carro de boi prossegue:
Caxangá para cá,
Caxangá para lá.
[14.05.2009]
D. Everson em Os Teimosos e a Poesia do Contra
Logo o de Joana Bezerra ser invocado no poema... Porra, Daniel!
ResponderExcluirPegou pesaaaado! Mas esse é um verdadeiro carro de boi, viu? =X
ResponderExcluirEm todo caso, é um poema a favor da maioria sofredora e silenciosa do rebanho, ou não? E contra quem toca esse rebanho, vaqueiro-empresário e vaqueiro-Estado. E olha que esse carro de boi ultrapassa bastante as fronteiras do Recife! Aqui no Rio tem até um tipo que anda sobre trilhos...
ResponderExcluirAbraço.
É verdade, Marcantonio. =]
ResponderExcluirAbraço,
Ane