O poema a seguir é de autoria de um poeta cujo trabalho estou conhecendo e admirando, a cada dia, mais. Seja bem-vindo ao Lacunas do Tempo, Caju.
Estações e Corações
Com tantos aromas e cores,
é clara a estação das flores.
Todos estavam na espera
para ouvir os passarinhos
cantando para a primavera,
exceto eu, que sou sozinho.
— Um coração que vive em pranto,
sem perfume, sem cor, sem canto.
Eu vejo todos mais contentes
quando o clima fica mais quente.
No brilho intenso do sol,
todos aproveitam o mar,
a piscina, o futebol,
menos eu, que não sei amar.
— Um coração que não quer luz,
que, lentamente, se reduz.
As árvores mudam de cor
e todos mudam de humor.
Os homens se rendem ao sono,
muitos querem dormir mais cedo,
enfeitiçados pelo outono,
menos eu, que vivo com medo.
— Um coração que se assombra
com o vulto da própria sombra.
Todos querem se aquecer
contra o frio que faz tremer.
A chuva purifica a vida,
que sempre vai buscar alguém
para se manter aquecida,
menos eu, sempre sem ninguém.
— Um coração só e vazio
suporta qualquer tempo frio.
Um ano, quatro estações,
um homem, quatro corações.
Tudo termina e recomeça
de forma simples e direta,
devagar e sem muita pressa,
exceto eu, que sou poeta.
— Um coração de poesia,
escravo da melancolia.
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