quinta-feira, 24 de junho de 2010

Manoel de Barros


O Catador

Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

Ilustração: Jinnie Anne Pak

3 comentários:

  1. manoel de barros e a sua poética do ser desnecessário. lindo post, ane!
    a imagem também.. harmonioso acordo com o poema.

    beijinho!

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  2. Obrigada, Luluz!

    Quanto à imagem, já encontrei o poema ilustrado! =P

    Beeeeeeeeijo,
    Ane

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  3. Manoel, de que espécie de barros fostes moldado?
    Bom demais!

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