Os animais carnívoros Dava pelo nome muito estrangeiro de Amor, era preciso chamá-lo sem voz - difundia uma colorida multiplicação de mãos, e aparecia depois todo nu escutando-se a si mesmo, e fazia de estátua durante um parque inteiro, de repente voltava-se e acontecera um crime, os jornais diziam, ele vinha em estado completo de fotografia embriagada, desco- bria-se sangue, a vítima caminhava com uma pêra na mão, a boca estava impressa na doçura intransponível da pêra, e depois já se não sabia o que fazer, ele era belo muito, daquela espécie de beleza repentina e urgente, inspirava a mais terrível acção do louvor, mas vinha comer às nossas mãos, e bastava que tivéssemos muito silêncio para isso, e então os dias cruzavam-se uns pelos outros e no meio habitava uma montanha intensa, e mais tarde às noites trocavam-se e no meio o que existia agora era uma plantação de espelhos, o Amor aparecia e desaparecia em todos eles, e tínhamos de ficar imóveis e sem compreender, porque ele era uma criança assassina e andava pela terra com as suas camisas brancas abertas, as suas camisas negras e vermelhas todas desabotoadas. |
as lacunas do tempo dançam ao encontro de linguagens, literatura, arte e acolhem todas e todos que passam por aqui
domingo, 18 de julho de 2010
Herberto Helder
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Adorei a nova aparência do blog...
ResponderExcluirPara compensar a ausência, eis um prémio para ti, lá num dos meus estaminés:
http://aboutnothingness.blogspot.com/2010/07/sunshine-award.html
Beijo grande.
Ane,
ResponderExcluiro tempo, ah o tempo, por mais estreito que se nos apresente não levará decerto a fome de poesia e literatura.
Começo meu retorno aqui; neste espaço aconhegante (ainda mais bonito), para ler-te, ainda que por meio de outro autor; mas é a você que credito a sensibilidade, a leitura, a busca.
Linda postagem!!
Beijos.
Ricardo