Guilhotinas, pelouros e castelos Resvalam longamente em procissão; Volteiam-me crepúsculos amarelos, Mordidos, doentios de roxidão.
Batem asas de auréola aos meus ouvidos, Grifam-me sons de cor e de perfumes, Ferem-me os olhos turbilhões de gumes, Descem-me na alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem, Da luz que me ilumina participo; Quero reunir-me, e todo me dissipo - Luto, estrebucho...Em vão! Silvo pra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar... Tudo oscila e se abate como espuma... Um disco de oiro surge a voltear... Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei? Ópio de inferno em vez de paraíso?... Que sortilégio a mim próprio lancei? Como é que em dor genial eu me eternizo?
Nem ópio nem morfina. O que me ardeu, Foi álcool mais raro e penetrante: É só de mim que ando delirante - Manhã tão forte que me anoiteceu.
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Um dos meus favoritos este. Muito bom.
ResponderExcluirHá quanto tempo não lia Mário de Sá-Carneiro...
ResponderExcluirLindapoesia!Um ótimo dia pra ti,beijos,chica
ResponderExcluirMesmo depois de morto, Mário de Sá-Carneiro é uma constante na dor universal; sua obra, de tão correlata da fundura da alma, é um incômodo que não passa, mal de poeta, de sensibilidade além, de certeza de desconexão, de desvio.
ResponderExcluirGrande homenagem, Ane.
Beijos.
Ricardo
(PS: Em que pé está viver?)